Desafios do biênio 2023-2024: Presidente Flávio Abreu destaca metas da nova gestão
10/03/2023

Desafios do biênio 2023-2024: Presidente Flávio Abreu destaca metas da nova gestão

Os próximos dois anos marcam uma nova gestão frente ao CRA-RS. Novos desafios, novas metas, novas oportunidades. Conversamos com o atual presidente da autarquia, Adm. Flávio Abreu, para antecipar aos profissionais da administração um pouco do que virá pela frente.

Master: Presidente, nos conte brevemente sobre sua história e sobre a sua relação com a Administração:

Flávio: Sou servidor público há 36 anos, desses, 14 anos foram no Exército Brasileiro, o que ajudou a moldar o meu perfil profissional. Iniciei a graduação em Administração em 1994, com o objetivo de lograr aprovação no primeiro concurso que eu fizesse para Auditor-Fiscal da Receita Federal. Obtive o grau de bacharel em Administração em 1999, pela Universidade Federal de Santa Maria, mas a decisão foi tomada bem antes. Como falei em meu discurso de posse (página 10), lembro que decidi cursar Administração em 1978, quando tinha apenas 10 anos de idade e minha mãe adquiriu seis livros para ajudar uma senhora que batera à porta de nossa casa. Entre os livros, havia três publicações sobre Administração. Li todos e, ao concluir, decidi que era isso que eu queria, mesmo sem saber que existia uma graduação em Administração.

Em 2001, no primeiro concurso após a colação de grau em Administração, consegui aprovação e classificação nos concursos para Auditor-Fiscal da Receita Federal. No mesmo ano obtive a primeira colocação no concurso para Auditor-Fiscal da Receita Municipal de Porto Alegre, entre mais de 3.500 candidatos. Em 2004 conclui o mestrado em Administração, na UNISINOS, e em 2022 obtive o grau de bacharel em Direito, pela Fundação do Ministério Público do Rio Grande do Sul, obtendo a láurea acadêmica.

M: Quais serão as principais bandeiras da sua gestão? 

Flávio: Desejo continuar o excelente trabalho realizado pela Diretoria que sucedemos. Dessa forma, pretendemos concluir o processo de planejamento estratégico, adotar uma gestão baseada em evidências, com o amadurecimento dos indicadores, incluindo a sua própria revisão, se necessário. Além disso, queremos usar os indicadores para criar painéis de gestão à vista para que todos possam conhecer nossos principais indicadores, metas e resultados. Juntamente com isso, já propusemos a todos os colaboradores e conselheiros a meta de papel zero, possibilitando, além da redução de custos, uma prática ambientalmente correta. Em termos de processos, pretendemos adotar as nove áreas de conhecimento em Business Process Management (BPM). Isso trará mais redução de custos, pois o tempo envolvido com as tarefas que compõem um processo é reduzido, tornando o processo mais racional e ágil. Tornaremos o acervo documental do CRA-RS 100% digital, o que contribuirá para a redução de custos, pela racionalização do espaço ocupado com o arquivo físico, atendendo a legislação que trata da matéria da temporalidade documental. Ainda internamente, pretendemos valorizar mais o quadro de colaboradores, criando uma gratificação por desempenho e privilegiando a meritocracia. 

Externamente, vamos difundir o Índice de Governança Municipal (IGM/CFA), em uma parceria inédita com a Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), premiando os municípios que se destacam na gestão. Reforçaremos a atividade de fiscalização, combatendo o exercício ilegal da profissão. Esses são alguns dos destaques que queremos evidenciar na nossa gestão.

M: Saímos de uma gestão de seis anos, que teve como marcos principais a realização de obras físicas na autarquia e a entrega de um superávit, inédito até então. Como está sendo iniciar este trabalho e planejar os próximos dois anos?  

Flávio: O nosso desafio nesse curto prazo é conhecer com o máximo grau de detalhe possível, cada um dos processos do CRA-RS. Isso é facilitado por encontrarmos o Conselho com uma invejável saúde financeira, aliado a um ambiente de trabalho reformado e totalmente adequado às atuais necessidades dos conselheiros e colaboradores. Não há dúvidas que receber a autarquia com uma saúde financeira excelente, permite direcionarmos o foco para a atividade fim da autarquia, que é a fiscalização. 

M: Como imaginas o CRA-RS ao final do seu mandato? 

Flávio: Imagino um CRA cada vez melhor. Com um planejamento estratégico consolidado, difundido e praticado. Processos bem delineados, racionais, ágeis e econômicos. Um quadro de colaboradores cada vez mais comprometido com o resultado, um sistema de gestão totalmente web, integrando as diversas áreas do CRA-RS, com indicadores construídos com metodologias comprovadas, que reflitam as dimensões do esforço e do resultado.

M: Quais os principais desafios que enxergas no cargo? 

Flávio: Acredito que o principal desafio seja atender às demandas dos diversos públicos que o CRA-RS interage. Os profissionais de Administração almejam o reconhecimento de todos e o respeito às áreas de atuação, assim como as demais profissões são respeitadas. O Tribunal de Contas da União emite normas que devem ser observadas pela autarquia, com atividades a serem cumpridas em prazos definidos. Isso demanda, além de conhecimento de gestão pública, uma constante capacitação e atualização. Obviamente, ao demandar tempo, como é um elemento escasso, é preciso racionalizar o uso desse recurso escasso, de forma a atender às demandas do TCU, da própria gestão e também os anseios dos profissionais de Administração.

M: Qual o seu estilo de gestão?

Flávio: Sou uma pessoa que delega atividades, mas ao mesmo tempo acompanha o seu cumprimento. Isso caracteriza um estilo descentralizador na execução, embora possamos centralizar o planejamento. Desde que assumi a função que atualmente é de Superintendente da Receita Municipal de Porto Alegre, adotei como prática a construção de indicadores e metas, portanto, tenho a convicção de que não se faz gestão sem esses dois instrumentos. Isso caracteriza um estilo de gestão baseado em evidências. Outra característica minha é que não aceito como resposta o “sempre fizemos assim”, “sempre foi assim”. Sou um questionador nato. Tudo, ou quase tudo, que eu faço é baseado em um estudo, quer seja de aspectos técnicos, quer seja da legislação. A formação na área jurídica ajuda bastante nesse aspecto, por isso posso dizer que isso reflete um estilo de gestão bastante técnico. É evidente que não fazemos nada sozinhos, por isso entendo que trabalhar com as pessoas e pelas pessoas deve ser o foco de todo e qualquer gestor.

M: Dentre as mudanças que planeja realizar, quais serão as que terão maior impacto inicial?

Flávio: Acredito que seja a revisão de todos os indicadores do CRA-RS, com a definição de metas que atendam ao mnemônico SMART: específicos (S), mensuráveis (M), atingíveis ou realistas (A), relevantes (R) e temporais ou com sensibilidade e tempestivos (T). Além disso, os indicadores em si precisam ser de adequada comunicação, confiáveis, de obtenção a custos moderados, estáveis, comparáveis, simples e auditáveis.

M: Podes abrir já alguma de suas metas para a autarquia? 

Flávio: Para a definição de metas precisamos de uma série histórica considerável ou a sua definição com base em referencial comparativo, mas de início posso afirmar que um dos nossos indicadores, como órgão público que trata de arrecadação de tributos, é o índice de recuperação de créditos. Outros indicadores que terão meta definida serão o de arrecadação, editais analisados, processos fiscalizatórios iniciados, dentre outros.

M: Como enxerga o papel das universidades, hoje, na formação do profissional de administração? 

Flávio: A educação sempre foi relevante para a formação de bons profissionais. Uma das preocupações externadas por Anthony Giddens em sua obra, Sociologia, é a mercantilização da educação. Diz ele que algumas corporações enxergam a educação como um “mercado perfeito para o investimento”. Sendo assim, é preciso sempre ter em vista que a educação é um direito social, devendo o poder público garantir o acesso a esse direito, como um dever do Estado. A iniciativa privada pode atuar na área da educação, mas deve primar pela qualidade. Nesse sentido, apesar do papel fundamental das instituições de educação, temos percebido um decréscimo na qualidade, o que reflete na empregabilidade ou no sucesso do empreendedor. É preciso manter a discussão acerca de uma educação de qualidade, formando bons profissionais, pois é isso que contribuirá para o sucesso dos profissionais de Administração e, consequentemente, para a valorização da profissão.

M: O senhor possui uma segunda graduação em Direito. Como acredita que a sua trajetória acadêmica pode auxiliar na gestão do CRA?

Flávio: Como eu disse anteriormente, não sou daqueles que acata a resposta que tal coisa sempre foi assim. Na graduação em Direito eu me dediquei às disciplinas com igual grau de comprometimento que me dediquei às próprias da Administração, onde estudei direito do trabalho, direito empresarial, instituições de direito público e privado e direito tributário. Isso me possibilitou ter uma visão inicial da estreita relação entre Administração e Direito. Em especial na Administração Pública, o conhecimento de Direito Constitucional e Administrativo é fundamental para o bom exercício da gestão. Dessa forma, acredito que o conhecimento de diversas áreas do direito, como Administrativo, Constitucional, Civil, Penal, Trabalhista, Tributário e as próprias disciplinas de Hermenêutica e Teoria da Argumentação Jurídica podem contribuir para que eu possa auxiliar os colaboradores do CRA-RS no melhor desempenho de suas atribuições.

M: O que você diria para os profissionais de administração que não conhecem a atuação do  Conselho Regional e acabam possuindo uma visão apenas arrecadatória da autarquia?

Flávio: Inicialmente é preciso esclarecer que o CRA-RS, como uma autarquia federal, não é um clube ou uma associação. O que o Conselho arrecada é tributo e, como tal, obedece a uma legislação específica, de forma que o não atendimento dessa legislação pode implicar em responsabilidade do gestor. Sendo assim, a cobrança das anuidades não é um ato discricionário do gestor, mas um ato estritamente vinculado à legislação. Em segundo lugar, muitas vezes ouvimos profissionais falando que falta fiscalização. No Rio Grande do Sul há 497 municípios, diversas Secretarias e órgãos estaduais, órgãos federais e milhares de pessoas jurídicas de direito privado que atuam na área da Administração. Não há como estar em todo lugar o tempo todo, por isso é fundamental que ao tomar conhecimento de um edital, do exercício ilegal de nossa profissão ou do descumprimento da legislação por parte de alguém, seja feita essa comunicação ao CRA-RS, com o máximo de dados possíveis. Para isso, temos a nossa Ouvidoria, para receber e repassar tais informações para o nosso quadro de fiscais, quadro esse que na gestão anterior foi redobrado, com a nomeação de novos Fiscais. A Diretoria que nos antecedeu fez uma licitação para contratação de serviços advocatícios. Possuímos um quadro qualificado de Fiscais e Procuradores que atuam em sinergia, mas para que tenhamos sucesso precisamos contar com a colaboração de todos os profissionais de Administração. 

M: Que mensagem gostaria de deixar para os profissionais registrados? E para os futuros colegas?

Flávio: Uma profissão forte e reconhecida não pode ser objeto do trabalho de poucos. É preciso união em prol de um objetivo comum para que a nossa profissão seja engrandecida. O sucesso de nossa profissão, do Sistema CFA/CRAs, depende de esforços conjuntos de todos. O grupo que ingressou em 2023, após o pleito eleitoral de 2022, não possui ninguém que já tenha sido Conselheiro. Isso não significa que alguém que já tenha sido Conselheiro eleito não possa contribuir ou que seja um demérito continuar a colaborar no Sistema. A renovação é necessária para trazer ideias novas ou pelo menos um modo diferente de fazer as coisas. Essa renovação também ocorreu na eleição de 2016, pois os integrantes da chapa vencedora nunca tinham sido Conselheiros. Entretanto, apesar dessa consideração, de não terem ex-conselheiros nas chapas de 2016 e de 2022, isso não significa que os integrantes não tenham colaborado com o CRA-RS e aqui reside minha mensagem aos atuais profissionais de Administração. Há ex-integrantes de Câmaras Especiais e de Representantes no interior, pessoas que colaboram com o Sistema há muitos anos. Por isso, a importância da participação de profissionais de Administração nas Câmaras Especiais do CRA-RS, são 10 Câmaras diferentes, indo da Gestão Pública à de Micro e Pequenas Empresas, passando pela Saúde, Agronegócios e outras tantas. Um edital de seleção para integrantes de Câmaras será lançado, precisamos de pessoas interessadas em colaborar com a profissão. Por isso essa menção à colaboração voluntária nas Câmaras Especiais e Representações no interior do Rio Grande do Sul.

Aos estudantes, pode parecer redundante, mas minha mensagem, como professor de graduação e pós-graduação em Administração é: estudem, levem a sério as diversas disciplinas do curso. Talvez, às vezes, surja a dúvida de que determinado conteúdo nunca será utilizado, mas a diferença entre o bom profissional e os demais é que ele sabe fazer essa utilização de conteúdos que para outros não têm aplicação. É possível ter disciplinas favoritas, as minhas eram da área de finanças, matemática financeira, economia, pesquisa operacional e estatística, mas nunca desconsiderei as outras. Quando me tornei gestor vi como é fundamental conhecer o conteúdo da área de gestão de pessoas, por exemplo. Por isso, tenham um propósito, um objetivo, e direcionem todos os seus esforços para atingi-lo, com certeza vocês terão sucesso!