Pela retomada do desenvolvimento, é necessário aprender a pensar
26/10/2017

Pela retomada do desenvolvimento, é necessário aprender a pensar
Um importante painel internacional, com análise abrangente do tema central do evento “A retomada do desenvolvimento e os novos desafios da Administração”, encerrou a tarde de trabalhos neste primeiro dia de realização do XV Fórum Internacional de Administração (FIA 2017), em Gramado (RS). A conferência, mediada pela presidente do CRA-RS, Adm. Claudia Abreu, reuniu o professor do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, Domingos Fernandes, que trouxe uma análise sob o ponto de vista do ensino; e o Administrador Cezar Roedel, professor de Relações Internacionais e Ciência Política e Coordenador de Assuntos Internacionais do Centro Universitário da Serra Gaúcha, que abordou a temática sob a ótica da revolução do estado frente à política.
 
O professor português provocou um reflexão e avaliação das sociedades atuais, a partir da apresentação de um conjunto de desafios comuns em diferentes países. Falou sobre ‘desafios urgentes’, como a criação de empregos, a estabilização econômica, a sustentabilidade do crescimento e o reforço da coesão social; sobre ‘desafios clássicos’, como a integração política, econômica e das políticas de educação e de formação, a mobilidade, a inclusão, a equidade, a igualdade e o aprofundamento da democracia social; e o que chamou de ‘desafio ideológico’, que engloba os temas da inclusão, da equidade e da igualdade. “É essencial para o desenvolvimento da democracia sustentável termos uma sociedade harmoniosa, mais tranquila, mais aberta às diferenças. O mundo é ‘diferente’ hoje, as pessoas se movimentam mais e o movimento de mercadorias é extraordinário. E é esse mundo harmonioso que queremos construir. Temos que lutar por ele!”, disse. 
 
Para Fernandes, ‘não há becos sem saída’, sendo necessário formar cidadãos para a participarem do desenvolvimento da sociedade. “A escola não faz isso sozinha, mas tem que cuidar do aprender a ser, aprender a estar com os outros. E isso vem sendo tratado com desleixo por parte dos sistemas educativos”, afirmou. Como consequências desses desafios, o professor citou tópicos a serem observados, a exemplo do sistema de avaliação institucional, do reconhecimento dos diplomas entre os países, da formação profissionalmente qualificada, do ensino superior e da educação e formação de adultos. “O grande propósito da educação, que permitirá enfrentar os desafios de fato, é aprender a pensar, e isso é muito difícil, dá trabalho”, ponderou. Para o professor, é necessário uma reinvenção das práticas, com alunos mais ativos e autônomos, no centro do processo e com foco na aprendizagem. “É preciso uma visão renovada do currículo e da pedagogia e seu papel na vida das instituições, assim como, uma produção teórica mais integrada e associada a uma diversidade de práticas”, concluiu.
 
O Adm. Roedel trouxe importantes reflexões aos profissionais da Administração sob a ótica da revolução do estado frente à política. Segundo ele, estamos passando por um processo no qual a tecnologia tem um papel central. “A revolução da concepção do estado é importante para todos os Administradores tendo em vista que outsiders estão chegando na política”, constatou ele, fazendo um comparativo entre o cenário americano e brasileiro. “Há uma diferença brutal na concepção de gestão da coisa pública nos Estados Unidos e aqui. Nós não temos fortificado o que eles já possuem: a tecnologia e a análise de dados, que hoje movimentam bilhões de dólares”, explicou, destacando a importância de enxergar o estado a partir da plataforma da tecnologia, trazendo mais dados e parâmetros de controle. 
 
O professor questionou ainda os congressistas acerca do conceito de progresso. “Será que de fato progredimos? Às vezes, parece que é automático olharmos para trás e dizermos ‘nós evoluímos’. Se compararmos a Constituição Federal de 1988 e com o pior exemplo de gestão da coisa pública da América Latina, que é a Venezuela, veremos que lá temos muito mais direitos fundamentais. Vocês acham que a Venezuela evolui?”, questionou, destacando que o mais importante é cada um encontrar o seu espaço dentro dessa realidade na qual o tempo se acelera e o espaço se reduz.