ATRIBUTOS DE UMA ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICA E FINANCEIRA DE PROJETOS

Projetos de investimento são normalmente divididos em táticos e estratégicos dentro das empresas. Os projetos táticos não costumam envolver grandes dispêndios financeiros, nem terão grande impacto sobre a estrutura da empresa como um todo, mas buscam ajustar fatores que se mostrem necessários. Por outro lado, projetos estratégicos dizem envolvem grandes investimentos e/ou situações em que a estrutura da empresa ou seu trajeto de longo prazo serão afetados. Estas decisões são bastante intrincadas, e requerem um bom grau de análise e gestão de riscos e incertezas. 
Guth (2012) afirma que “na medida em que aumenta o ritmo das mudanças, a durabilidade das estratégias empresariais vai diminuindo”. Desta forma, faz-se necessário elaborar uma análise robusta da viabilidade econômica e financeira destes projetos.
 
De modo geral, todo projeto de investimento está sujeito à condições de risco e incerteza. Risco, na visão de Valeriano (2005, p. 235) consiste na possibilidade de ocorrência de um resultado indesejável, como consequência de um evento qualquer. O risco tem duas dimensões, no caso de sua ocorrência: a) a probabilidade de sua ocorrência; e b) o impacto sobre o projeto (a severidade do dano ou grandeza do benefício). Araujo (2005), diz que “estamos tratando de uma situação de incerteza quando uma ou mais variáveis são desconhecidas, ou quando não se sabe o impacto real que cada uma delas pode ter”. 
 
Como citado, risco e incerteza são conceitos diferentes, mas de suma importância na análise de qualquer projeto de âmbito estratégico. Como exemplos de fatores de risco e incerteza, podem ser citados:
 
-Fatores de risco: aumento da concorrência, aumento inesperado de custos de mão de obra, energia elétrica, impostos, e outros insumos, mudanças no gosto dos consumidores, surgimento de produtos substitutos, entre outros. 
 
-Fatores de incerteza: agravamento da situação macroeconômica do país, queda da renda dos consumidores, escassez de matéria-prima, entre outros.
 
Para controlar os fatores de risco, bem como dar segurança e ferramentas para o processo decisório, existem algumas ferramentas que podem ser utilizadas para avaliar os projetos. Todas apresentam vantagens e desvantagens, sendo que o mais indicado é avaliar o projeto utilizando uma combinação de vários indicadores.
 
-Payback simples: O payback simples é “o período de tempo necessário para que as entradas de caixa do projeto se igualem ao valor a ser investido, ou seja, o tempo de recuperação do investimento realizado” (LUNELLI, 2011). A simplicidade no cálculo deste método é sua principal vantagem, mas o método apresenta algumas limitações, como, por exemplo, desconhecer o que se passa com os fluxos de caixa que excedam os custos originais do projeto, além de ignorar o valor da moeda no tempo e a depreciação do investimento. Se levarmos em consideração que quanto maior o horizonte de tempo, maiores serão as incertezas envolvidas na execução de um projeto de nível estratégico, é natural que as empresas procurem diminuir seus riscos optando por projetos que tenham um retorno de capital dentro de um período de tempo razoável.
 
-Payback descontado: A principal diferença entre payback simples e descontado, é que o payback descontado avalia o período de tempo necessário para recuperar o investimento “avaliando-se os fluxos de caixa descontados” (LUNELLI, 2011), ou seja, considerando-se o valor do dinheiro no tempo, e esta é sua principal vantagem. Por outro lado, esta forma de análise pode ser prejudicada ao analisar-se projetos mutuamente excludentes, visto que não leva em conta a escala do projeto, mas apenas o tempo necessário para a recuperação do projeto, e isso pode levar à escolha de projetos errados.
 
-Taxa Interna de Retorno (TIR): “A TIR é a taxa necessária para igualar o valor de um investimento (valor presente) com seus respectivos retornos futuros ou saldos de caixa” (SERGIO, 2009). A TIR é amplamente utilizada no meio empresarial, para avaliar a remuneração que a entidade oferece aos acionistas. Se a TIR for maior que a taxa mínima de atratividade estabelecida, o investimento é atrativo. Se for menor, o investimento deve ser descartado. Sua grande vantagem é trabalhar apenas com os dados gerados pelo próprio projeto em termos de fluxo de caixa, necessitando de dados externos somente para avaliar a TIR em termos de atratividade. Da mesma forma que os métodos anteriormente explorados, a TIR corre o risco de fornecer uma análise errônea quando dois projetos são mutuamente excludentes.
 
-Razão benefício-custo: índice que calcula a razão entre benefícios e custos do projeto. Se for igual ou maior que 1, o projeto deve ser executado. Em uma situação de projetos mutuamente excludentes, pode fornecer uma análise equivocada.
-Índice de Lucratividade: Cálculo similar ao do índice anterior, mas utilizando os benefícios líquidos, ou seja, deduzindo-se os custos dos benefícios, e calculando, em termos percentuais, um índice de lucratividade. Deve-se ter cuidado para não ignorar diferenças e escala de capital em projetos mutuamente excludentes.
 
-Valor Presente Líquido (VPL): O VPL é uma função utilizada na análise de viabilidade de um projeto de investimento. É definido como o somatório dos valores presentes dos fluxos estimados de uma aplicação, calculados a partir de uma taxa dada e de seu período de duração (CAVALCANTE, 2015). Se for negativo, o projeto de investimento deve ser recusado. A grande vantagem do VPL é que esta ferramenta elimina o risco apresentado pelas análises anteriores, de fornecer resultados equivocados em projetos mutuamente excludentes, trazendo uma análise mais confiável e segura. Este é, portanto, o melhor método de seleção de projetos, mas depende de um cálculo correto do custo de capital da empresa.
 
Principais fontes de financiamento
 
De modo geral, as empresas têm uma demanda por capital, e este capital têm um custo, seja o custo de oportunidade, quando o capital utilizado é próprio, sejam juros e taxas pagas para terceiros, quando a fonte de captação é externa, e um considerável esforço deve ser feito para calcular o custo e retorno dos investimentos feitos pelas empresas.
 
Para calcular o custo do capital, as empresas utilizam o cálculo do custo médio ponderado de capital, ou weighted average cost of capital (WACC). Segundo Nogueira (2012), o WACC é utilizado para duas importantes funções na gestão financeira: “para calcular o valor da empresa, quando usado como taxa de desconto de fluxos de caixa futuros e para avaliar a viabilidade de novos projetos, funcionando como taxa mínima a ser ultrapassada para justificar o investimento”.
 
O WACC é uma média do custo de capitais próprios e dos capitais de terceiros. O cálculo resume-se a encontrar a proporção de capitais próprios e terceiros, encontrar a taxa de custo do capital de terceiros e do capital próprio e atribuir um peso pelo respectivo custo de capital. O somatório dos itens resultará no WACC.
 
As fontes internas são de capital próprio, e as fontes externas dependem de capital de terceiros. Via de regra, não existe nenhuma recomendação quanto a uma fonte ser melhor que outra, e isso varia de acordo com as condições e o contexto de cada organização.
 
-Fontes internas (capital próprio) – As fontes internas de captação de recursos para investimentos, normalmente originam-se da conta de lucros acumulados, ou da criação de fundos de depreciação. Os fundos de depreciação são criadas com base no resultado da empresa, e visam manter o capital intacto ao longo do tempo, por meio da reposição de capital que foi gasto ou ficou obsoleto. Já os lucros acumulados/retidos, constituem a fonte de financiamento interna mais importante da empresa, pois evita os altos custos de captação externa no mercado, como financiamentos, emissão de ações, debêntures, entre outros. No entanto, deve-se atentar para o custo de oportunidade envolvido na gestão dos lucros retidos. O fato de os lucros serem da empresa, não os isentam de custo de oportunidade, e o projeto deve apenas ser realizado quando seu retorno for igual ou superior ao custo de oportunidade envolvido.
 
-Fontes externas (capital de terceiros) – No mercado externo, destacam-se duas fontes de financiamento de capital: o mercado bancário e o mercado de capitais. No caso do mercado bancário, as empresas podem contratar empréstimos bancários para financiar projetos de investimentos. No entanto, estarão sujeitas às regras e taxas cobradas por estes bancos. É importante ressaltar que a taxa de juros cobrada varia influenciada por fatores macroeconômicos, e isso pode encarecer ou incentivar os investimentos empresariais. Muitas vezes, o custo de contratar um empréstimo é menor que o custo de oportunidade de utilizar os lucros retidos da empresa, devido aos incentivos governamentais que podem, eventualmente, ser concedidos para incentivar os investimentos. Nestes casos, os empréstimos são uma boa opção. Caso a política monetária seja restritiva, com altas taxas de juros visando o controle inflacionário, pode ser mais vantajoso utilizar os lucros retidos para os projetos de investimento. No mercado de capitais, destacam-se a emissão de ações, para empresas de capital aberto (ou fechado, via subscrições privadas de capital). Esta possibilidade gera alavancagem financeira para as empresas, e possibilita o levantamento de grandes volumes de capital.
 
CONCLUSÃO
 
Por fim, embora existam múltiplas técnicas para analisar a viabilidade econômica e financeira de qualquer tipo de projeto, é preciso, antes de tudo, analisar estrategicamente a razão de existir do projeto. 
Todo projeto precisa amplificar a vantagem competitiva da empresa, levando em consideração as capacidades da mesma, bem como seus pontos fortes e oportunidades vislumbradas. Uma análise estratégica minuciosa é a única garantia de que os projetos de investimento oferecerão curtos períodos de payback, bem como elevadas taxas de retorno e VPL. 
 
 
 
REFERÊNCIAS
 
ARAUJO, Rodolfo. Você sabe a diferença entre incerteza e risco? Disponível em . Acesso em 15 set. 2016.
 
Cavalcante Consultores. Valor Presente Líquido VPL. Disponível em . Acesso em 15 set. 2016
 
GUTH, Sergio. O grau de Investimento Definido por um Indicador Econômico e Financeiro. 2012. 298 p. Tese (Doutorado em Economia) – Departamento de Economia, Gestão e Engenharia Industrial da Universidade de Aveiro, Portugal. Aveiro.
 
LUNELLI, Reinaldo L. Análise de investimentos. Disponível em . Acesso em 15 set. 2016.
 
NOGUEIRA, Nuno. Como calcular o custo médio ponderado de capital (WACC). Disponível em < https://www.portal-gestao.com/artigos/7457-como-calcular-o-custo-m%C3%A9dio-ponderado-do-capital-wacc.html>. Acesso em 15 set. 2016.
 
SERGIO, Cleuderson. Taxa Interna de Retorno TIR. Disponível em < http://www.administ radores.com.br/artigos/negocios/taxa-interna-de-retorno-tir/30435/>. Acesso em 13 set. 2016.
 
VALERIANO, Dalton. Moderno gerenciamento de projetos. São Paulo: Prentice Hall, 2005.
 

RAFAEL LUÍS WAGNER - CRA/RS 048676.

Mestrando em Administração pela Faculdade Meridional (IMED). Especialista em Estratégia Empresarial pela Darden School of Business da University of Virginia (EUA). Está cursando MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Graduado em Administração pela Universidade de Passo Fundo (2015). Atualmente é consultor financeiro de empresas. 
Link para currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/0065331824640040. E-mail: rafaelw094@gmail.com.