Gestão pública em foco

O Brasil está prestes a colocar um ponto final em um dos maiores escândalos políticos da sua história: o mensalão. O esquema de compras e votos de parlamentares , escancarado em 2005 pelo então deputado federal Roberto Jefferson em entrevista à Folha de São Paulo, chocou a nação. Ao Superior Tribunal Federal (STF) cabe a missão de julgar os réus por diversos crimes como gestão fraudulenta, evasão de divisas, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, entre outros, nesse que já está sendo considerado o maior julgamento da República.

Enquanto uns são julgados, novos escândalos vêm à tona, causando-nos profunda indignação. Vejamos o caso da Operação Monte Carlo da Polícia Federal, criada para desmantelar um esquema de exploração ilegal de jogos. Contudo, a investigação para coibir a prática de um contraventor explodiu, revelando que o caso era apenas a ponta do iceberg.

Não vou detalhar nenhum dos dois casos, já que ambos são de conhecimento público e demasiado noticiado pela imprensa. Mas quero chamar a atenção para um fato relevante a cerca desses escândalos: a falta de decoro com a coisa pública. É fato que o Brasil caminha para ser uma potência econômica, haja vista seu desempenho diante da crise que vivenciamos anos atrás. Porém, é de se espantar seu atolamento quando o assunto são valores, ética, moral, probidade.

A nação está sendo devorada por atitudes ilegais e antiéticas praticadas por agentes públicos que pouco se importam com o país. Ao gerirem os recursos públicos – oriundos da elevadíssima carga tributária -, priorizam interesses pessoais ou de terceiros e se esquecem de dar a devida atenção às necessidades básicas do cidadão como saúde, educação, segurança e moradia.

Ninguém mais suporta tamanha falta de respeito com nossos recursos, pagos com tanto sacrifício, principalmente pelas classes menos favorecidas. Nosso entendimento é de que, a precarização dos serviços públicos e essa avalanche de denúncias são fruto da falta de profissionalização.

Observamos que muitos dos cargos são ocupados por pessoa sem qualificação técnica e científica na área da Administração. São pessoas com qualquer formação ou sem formação nenhuma e, muitas das vezes, estão onde estão em razão de favorecimento e troca de favores. Defendemos, portanto, uma gestão pública mais profissional, tocada por mãos capacitadas, com formação acadêmica adequada, habilitadas e com o registro no respectivo órgão de classe para tal.

O setor público clama por essa mudança em todos os níveis e poderes. Amiúde, o Sistema CFA/CRAs tem tocado nessa ferida e defendido uma gestão profissional, límpida e debruçada nos reais interesses públicos. Não fazemos isso com objetivos corporativistas, mas sim pelo incansável desejo de ver uma nação crescer verdadeiramente, tanto do ponto de vista econômico, quanto social.

Nesse diapasão, lançamos o “Movimento Brasil Profissional” cujo objetivo é reivindicar uma gestão pública mais consciente, formada por profissionais éticos e preparados, que prestem serviços para a sociedade com compromisso e responsabilidade, visando o desenvolvimento do país. Porém, para alcançarmos nossa meta, precisamos que todas as pessoas, principalmente os profissionais de Administração, assinem o manifesto disponível no site www.brasilprofissional.adm.br. Ao final, iremos entregá-lo com todas as assinaturas no Congresso Nacional.

Além disso, a nossa campanha de valorização profissional deste ano, criada para celebrar os 47 anos da Administração, traz o slogan “Administração Profissional, o ‘X da questão’ para o desenvolvimento do Brasil”. O bordão popular representa a solução do problema e, ao posicionarmos a Administração profissional neste contexto, inserimos o Administrador no papel de protagonista no desenvolvimento da gestão pública do Brasil.

Com denodo, conquistaremos nosso desejo, acalentado não só por nós Administradores, mas por todos os brasileiros, de vermos um Brasil mais alvissareiro.

 

Por Adm. Sebastião Mello

Presidente do Conselho Federal de Administração (CFA)