No dia 15 de outubro, comemora-se o dia do professor. Pela minha atuação de mais de quarenta anos exercendo esta função, sinto-me no direito e dever de dirigir-me aos meus colegas Administradores que atuam no Magistério do Ensino Superior.
Quando em Porto Alegre iniciou-se uma série de reportagens questionando o ensino em todos os níveis, um dos entrevistados falou que o grande problema da educação era termos alunos do século 21, sendo ensinado por professores do século 20, com escolas estruturadas no século 19. A mistura de três séculos para se oferecer algo aos nossos alunos é na realidade o grande desafio que nós professores estamos enfrentando em nosso País.
Conversando com minha neta que esta fazendo um cursinho pré-vestibular, perguntei quantos alunos estavam nas salas de aula dela. A resposta foi 150. Não se pode falar em aula para 150 pessoas, esta ação está mais para Palestras em Seminários, o ideal seria um máximo de 30.
Contudo, mesmo com este número excessivo de pessoas em uma sala de aula, a frequência aos cursinhos é grande e o interesse maior. Por que isto acontece? Na realidade os alunos se submetem a estas condições porque seu interesse em passar no vestibular é muito grande. Em outras palavras a motivação é maior do que os obstáculos.
O que tem ocorrido com os alunos após entrar numa Instituição de Ensino Superior? Algumas IES continuam com número excessivo de alunos por sala de aula, mas a frequência e o interesse dos alunos parecem que diminuem vertiginosamente.
O que leva a esta mudança de comportamento? De um lado temos profissionais que exercem a função de professor como uma atividade complementar, consequentemente seu interesse é em oferecer a disciplina que lhe foi indicada, se possível, com o melhor preparo, mas sem um comprometimento com os resultados. Ele ministra sua disciplina sem preocupar-se muito com os interesses de seus alunos. Afinal esta disciplina faz parte do currículo e o aluno tem de cursá-la. De outro lado temos o aluno que passou em um vestibular sem uma convicção clara do que queria, procurando terminar o curso da melhor maneira possível sem preocupar-se com o que irá fazer após ter se formado.
O que esta faltando para nós, enquanto professores?
Voltando a questão dos diferentes séculos, creio que esta faltando para nós sermos mais inovadores. Não podemos frente à geração da informática, e das redes sociais, continuar transmitindo informações com os mesmos instrumentos do século 20 e em instalações com as mesmas características que tinham no século 19.
Esta inovação começa pela conscientização de que no processo de ensino aprendizagem não basta fazer mudanças pontuais. Precisamos mais do que tudo que o ensino efetue em nossos alunos um processo de transformação, onde novos comportamentos sejam internalizados e a informação sedimentada como conhecimento a ser aplicado.
Precisamos adequar nossas metodologias. Em lugar de conteúdos estanques para determinadas áreas de conhecimento, devemos pensar em multidisciplinaridade e transdisciplinaridade.
Quando iniciei meu envolvimento com a área de Gestão Ambiental pude me dar conta de que esta área tem uma transversalidade imensa. Que precisa haver uma inter-relação entre diversas profissões para que os problemas ambientais sejam solucionados. Assim não podemos mais pensar em finanças ou recursos humanos sem os relacionar com os princípios de Gestão Ambiental. Similarmente não se pode falar em marketing ou produção sem se ocupar com as questões de sustentabilidade.
Contudo estes conhecimentos não podem ser oferecidos através das formas tradicionais da transmissão unidirecional do professor para o aluno. Os novos instrumentos existentes que empoderam professores e alunos, devem levar a uma necessária participação do aluno como agente receptor e transformador do ambiente de ensino.
Por que nos sentimos desvalorizados?
Quanto à desvalorização do professor ela começa em nós mesmos. Precisamos, inicialmente, nos valorizarmos, praticarmos ações individuais e coletivas que venham a demonstrar para toda a coletividade o nosso real valor.
Quando professor de uma Instituição de Ensino do Setor Público participei de algumas greves, porém me desiludi quando vi que o único objetivo das greves era busca de aumento salarial. A melhoria das condições em que as aulas eram ministradas e mesmo programas de aperfeiçoamento para professores ficavam em segundo plano. Sei que os professores, em todos os níveis, são mal remunerados. Sei também que um melhor nível de educação exige não apenas uma remuneração condigna, mas condições de trabalho que permitam que as ações sejam desenvolvidas com vontade, comprometimento e porque não dizer amor.
Esta é minha mensagem para todos os Administradores que desempenham a honrosa, digna e indispensável função de Professor.