Favelas desenvolvem seu próprio empreendedorismo
10/02/2017

Favelas desenvolvem seu próprio empreendedorismo
Apesar de estarem expostas a todos em algumas cidades, como no caso do Rio de Janeiro, as favelas e suas carências foram por muito tempo ignoradas, ficaram sob uma cortina invisível. Há alguns anos, no entanto, a vida nesse ambiente tem sido alvo de interesse do público em geral, dos governos e do mercado. Talvez a expansão territorial e da população – são 200 mil favelas no mundo com 827 milhões de habitantes - tenha motivado essa mudança de olhar pessoal e das políticas públicas, como os teleféricos e as UPPs, além da instalação de lojas e até bancos. Essas transformações mostram que, mais que um lugar de habitação precária, existe uma realidade interessante a ser conhecida e que segue seu ritmo próprio de desenvolvimento. 
 
O Adm. Vinicius Mendes Lima estudou o tema e escreveu o livro “A Riqueza das Favelas: o empreendedorismo entre morros e vielas” em que analisou a realidade na Rocinha, no Rio de Janeiro, e Villa 31, em Buenos Aires, Argentina. A ideia surgiu depois de acidentalmente entrar na comunidade carioca e se surpreender com o que viu em termos econômicos, inclusive com a presença de grandes marcas,  em paralelo à violência e penúria. “Sobre o empreendedor favelado, após esta pesquisa, consegui constatar que eles entendem muito sobre gestão administrativa, sobre o composto de marketing e até mesmo sobre gestão de pessoas, porém, tudo ou quase tudo de forma empírica. Praticamente todo o entrevistado reconhece que deveria estudar mais sobre todos os temas, mas o dia a dia os impede”, explica. 
 
Ao mesmo tempo, os poucos com formação específica apresentaram ganhos consideráveis. “Onde encontrei alguém com curso de graduação (em andamento neste caso) na Villa 31, em Buenos Aires, o destaque é notório, pois em um espaço de 20 metros quadrados o micro empresário chega a faturar 50 mil por mês fabricando e vendendo empanadas. Dona Larissa fez técnico em Administração e é dona de uma tenda de cachorro quente na Rocinha com seu marido Osvaldo e passa dos 10 mil reais de faturamento por mês”. Para Lima, empreender pode não só fortalecer a economia local, como gera riqueza de cultura, de relacionamento e principalmente de autoestima. “Em ambas comunidades, o que se vê são pessoas felizes com seus negócios e de alguma forma inovando diariamente”. Também são gerados empregos, mesmo que não legalizados, média de 2 na Rocinha e 3 na Villa 31. Traçando um paralelo entre a Rocinha e a Villa 31, o faturamento médio entre os avaliados chega a R$12 mil e R$10 mil respectivamente, alcançando até R$150 mil na comunidade brasileira. Uma diferença curiosa é o fato de residir na comunidade, no caso argentino 100% dos pesquisados e no brasileiro 50%. 
 
A ausência de confiança em qualquer espécie de apoio por parte do poder público chamou a atenção. “Em ambos os países, são praticamente nulas as políticas públicas. Quando entram em contato com alguma espécie de incentivo ou programa governamental não se sentem seguros para utilizar, com medo de que o governo intensifique a fiscalização de cada nota, cada fornecedor, cada detalhe, colocando em risco seu negócio”, explica.
 
Saiba mais sobre o empreendedorismo na periferia na próxima Revista Master.