"Você já olhou seu lixo hoje?", por Adm. Felipe Leão
08/04/2024

Em um mundo onde a sustentabilidade se tornou um pilar fundamental para o futuro, a adoção de práticas ESG transcendeu o ambiente corporativo, tornando-se um imperativo para indivíduos e comunidades. As empresas vêm sendo avaliadas rigorosamente e as práticas ambientais estão se tornando critérios na decisão de compra dos consumidores e até para a aprovação de financiamentos. Isso demonstra que o mercado tem focado intensamente nas questões ambientais, de governança e social das empresas. E a tendência é que este cenário se intensifique no curto prazo.

Auditorias, supervisões e requisitos são somados à pressão implacável da população através das redes sociais para que as organizações evitem erros e se tornem referências - sustentáveis e trabalhistas. Hoje, nada escapa ao olhar atento das lideranças e nem às lentes incansáveis dos celulares de plantão. 

Se analisarmos todas essas demandas somadas ao olhar crítico e ao apelo populacional, parece que vivemos em um mundo empático, sustentável e sem desigualdades sociais. Ao estudarmos moral e a ética, gosto muito da frase clichê: 'Ética é aquilo que você faz quando ninguém está olhando'. Então, pergunto: já olhou seu lixo hoje? Você dedica a mesma energia para cobrar das autoridades e organizações assim como para gerenciar os resíduos da sua casa? Ao olharmos para o nosso lixo, não apenas vemos o reflexo de nossos hábitos, mas também a oportunidade de transformar simples gestos em poderosos instrumentos de mudança ambiental e social.

Você separa o seu resíduo seco do orgânico? Ao levar o lixo para fora de casa, você faz a separação entre o rejeito do banheiro e os resíduos orgânicos da cozinha? Já encontrou alguma embalagem de sabonete, shampoo ou desodorante misturada aos rejeitos do banheiro? Ao considerar esse exemplo, a mistura de papel higiênico do banheiro com embalagens de desodorante pode parecer um pouco desagradável, concorda? Um trabalhador em uma cooperativa de reciclagem sente o mesmo ao ter que abrir um saco de rejeitos para retirar um frasco de desodorante para garantir seu sustento. Essas práticas, embora pareçam pequenas isoladamente, contribuem para uma mudança maior, promovendo uma economia circular e reduzindo o impacto ambiental.

As ações individuais, quando somadas, têm o poder de impulsionar uma mudança significativa na sociedade. Por exemplo, se cada morador de uma cidade comprometer-se a reciclar diariamente, isso pode resultar em toneladas de resíduos desviados de aterros sanitários anualmente. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE), o índice de reciclagem no Brasil é de apenas 4%. Nosso país produz 27,7 milhões de toneladas anuais de resíduos recicláveis. Será que essa responsabilidade é apenas das corporações e do governo? Todos têm uma parcela, mas ela começa pela falta de consciência e comprometimento do cidadão dentro de sua residência, onde ninguém está supervisionando ou, simplesmente, olhando.

William H. McRaven, em uma de suas palestras, proferiu: "Se você quer mudar o mundo, comece arrumando sua cama". Ao separar corretamente os resíduos em sua residência, você estará aplicando os princípios ESG dentro da sua casa, agindo com princípios éticos (Governança), ajudando as cooperativas de reciclagem que frequentemente operam de forma inclusiva (Social) e melhorando a produção nacional de resíduos recicláveis (Ambiental). E você?  Quer mudar o mundo? Já deu uma olhada em seu lixo hoje?

Adm. Felipe Leão, Coordenador da Câmara de Responsabilidade Social e Sustentabilidade do CRA-RS